Tao Te Ching

TAO TE CHING. O Tao Te Ching, ou "livro do caminho e da virtude", é considerado uma das joias mais preciosas dos chamados textos clássicos chineses, o que naturalmente inclui os Analectos, mas o livro em questão não é um texto confucionista e as doutrinas filosóficas que contém diferem numa vasta gama de aspetos dos propostos por Confúcio. O Tao Te Ching é considerado como tendo sido escrito ou compilado por volta do século 2300 a. C. e, é portanto contemporâneo dos Analistas. A sua autoria, embora contestada, é atribuída a Lao Tse que é considerado como sendo contemporâneo de Confúcio e a quem a totalidade, ou a maioria, do texto é devida. A existência de uma pessoa com o nome de Lao Tse (Velho Mestre) também não é muito clara, mas a uniformidade de estilo do livro faz com que caia para uma pessoa, correspondente a esta ou aquela pessoa, ser o autor. Embora não haja provas materiais da existência deste personagem, se um austero monumento de pedra de forma oblonga for preservado na montanha sagrada Tai-Shan, em Shan-Tung, é alegórico para ele. Há uma anedota ou lenda sobre o Tao Te Ching relacionada com o facto de o livro em questão ter sido escrito por Lao Tse quando ele, já velho, se preparava para deixar o país, e o guardião da porta de Han-Ku pediu-lhe que deixasse as suas doutrinas por escrito antes de o fazer; e foi assim que o livro em questão teve origem, mais tarde compilado pelos seus discípulos, e é a única obra do autor. Um dos mais importantes sinólogos versados na língua chinesa de todos os tempos, J Legge, coloca Lao Tse como contemporâneo de Confúcio e como bibliotecário em Lou, capital do império Chou, onde se diz que teve lugar entre eles um encontro que marcou as diferenças entre ambas as doutrinas ao longo dos mais de dois mil anos de história chinesa, e no qual ambos mostraram as suas muitas discordâncias. Não há dúvida sobre a autenticidade do Tao Te Ching, embora esteja na ordem de alguns capítulos, ou a inclusão de outros após a sua escrita e compilação. Neste sentido, as últimas escavações no túmulo número 1 de Guodian, cujas pastilhas escritas encontradas estão próximas da data considerada como sendo a publicação do livro, contêm numerosos capítulos do texto. Se alguma doutrina influenciou a personalidade e essência das classes humildes chinesas, foi o Tao Te Ching, que se manifesta na própria psicologia dos indivíduos, na sua calma, inércia e aparente indiferença a certos acontecimentos, por mais transcendentais que pareçam, quando consideram que estes não lhes fazem alusão, incluindo a política, dada a sua falta de confiança nos governos, porque primeiro existe o grande caminho da virtude, o Tao, que precede todas as coisas e dita o destino de todas as coisas que criou. O Tao Te Ching ultrapassa no humanismo qualquer outro livro conhecido, e estava mesmo à frente das doutrinas cristãs, porque embora não se diga que a outra face foi virada num só golpe, foi necessário aceitar todos os homens igualmente, sejam eles bons ou maus: "Para aqueles que são bons, eu sou bom e para aqueles que não o são, eu também sou bom" e assim todos se tornarão bons. Também, no que respeita à renúncia aos bens materiais e ao desprezo pela riqueza, vai além de qualquer outra doutrina, e culpa largamente a ambição material e os governos pelos problemas que a humanidade enfrenta. Os seus adeptos estão inclinados a viver vidas extraordinariamente austeras com as necessidades da vida. No Tao Te Ching, é feita uma tentativa de persuadir o homem a regressar às suas origens naturais, por isso é dada grande importância à "mãe natureza" e à sociedade no seu estado primitivo, o que implica, portanto, um certo repúdio do conhecimento e do ensino, mas sobretudo dos rituais, em contraste direto com o confucionismo.